CONCURSO realizado pela biblioteca , dirigido ao 3º ciclo.
A lealdade do garnisé Óscar
Quando eu era pequeno, o meu avô contava-me muitas histórias, mas a que me impressionou mais foi a história do seu pai, José, que vivia em Gaia, numa casa de pedra, com um pequeno quintal, onde criava galinhas e um pequeno garnisé chamado Óscar.
O Óscar tinha penas castanhas e brilhantes que lhe cobriam o seu corpo todo, exceto a cabeça onde tinha algumas penas brancas. O Óscar olhava fixamente para tudo, especialmente para o meu bisavô José que tinha uma pequena fábrica de calçado, não muito longe da sua residência, o que lhe permitia almoçar em casa. Quando se sentava à mesa, o Óscar saltava imediatamente para o seu ombro, obrigando-o a repartir a sua refeição com ele.
Um certo dia, o meu bisavô José adoeceu e os seus filhos chamaram um médico a casa, que o medicou. No entanto, ninguém sabia que o José era alérgico a um dos medicamentos que lhe tinha sido receitado, por isso acabou por falecer três dias depois.
Com a morte do dono, o garnisé Óscar ficou trancado no galinheiro, já que o meu bisavô José, o falecido, já não podia abrir-lhe a porta todos os dias. Estranhamente, Óscar conseguiu escapar do galinheiro e durante o velório, para espanto de todos, subiu para o caixão de José, dado que, naquele tempo, os velórios eram realizados nas próprias residências.
Depois de realizado o funeral, o galo Óscar manteve-se durante muito tempo em cima da campa do dono. Passaram-se meses e a ave continuava a ser vista a “velar” o seu amigo, mostrando assim a sua lealdade para com o dono José.
9ºC
O carro e o cão
A minha avó costumava contar aos netos histórias engraçadas que, afinal, eram apenas memórias da sua vida enquanto jovem.
Uma dessas histórias relata um acontecimento bastante caricato que a avó Maria recorda, ainda hoje, com alegria.
Num certo dia de verão, o carro da minha avó foi furtado. Um pouco perturbada, ela dirigiu-se à polícia para comunicar o ocorrido, mas os dias iam passando e não havia notícias do carro.
A avó Maria contou-me também que, dentro do seu carro, havia um saco cheio de carne e que, por isso mesmo, estava muito preocupada, pois, fora do frigorífico, estragar-se-ia em pouco tempo.
Alguns dias depois, a minha avó voltava do mercado quando ouviu o latido desesperado de um cão. Intrigada, aproximou-se e percebeu imediatamente que o cachorro ladrava, insistentemente, na direção de um carro bastante destruído. À medida que se ia aproximando do carro, apercebeu-se de que havia um saco de carne, talvez o que tinha deixado dentro do seu carro roubado. Como ainda andava com a chave do seu automóvel no bolso, pegou nela e tentou abrir a porta. Nem queria acreditar! Embora estivesse completamente irreconhecível – todo amassado, os vidros partidos e todo sujo por dentro – aquele carro era o seu!
Como é evidente, um turbilhão de emoções apoderou-se da avó Maria. Por um lado, sentia-se aliviada, pois encontrara o seu carro, por outro, estava desiludida, uma vez que estava todo destruído e que era apenas um monte de sucata.
A avó Maria, ainda ainda atordoada com o que lhe estava a acontecer, reparou, então, no cão que a tinha atraído até ao seu carro. Estava muito quieto a olhar para ela, com um ar ternurento. Depois, foi-se aproximando da minha avó, tentando tocar-lhe com a patinha. A avó Maria fez-lhe uma festa e o cão retribuiu. Ambos ficaram felizes: a avó com um sorriso enorme estampado no rosto e o cão com a cauda a dar, a dar!
A partir deste dia, a avó Maria e o cão tornaram-se inseparáveis e são, até hoje, os melhores amigos de sempre.
9º G
A leiteira
Há muito, muito tempo, quando a minha avó tinha 7 anos, uma das suas muitas tarefas era ir buscar leite a casa do lavrador.
Durante o percurso de volta até casa, para se entreter, a minha avó tinha o hábito de rodopiar com a leiteira, fazendo-a andar à roda com muita velocidade. Um dia, a brincadeira correu mal, pois o arco da leiteira soltou-se. O leite ficou todo entornado e, junto aos pés da minha avó, o chão cobriu-se de branco!
Em pânico e a chorar, por causa da asneira que acabara de fazer, a minha avó voltou para trás e foi de novo a casa do lavrador onde encontrou o criado a quem contou a desgraça que lhe acontecera. Este, muito gentil, pediu-lhe que parasse de chorar, cantando-lhe de seguida uma cantiga:
“Dê-me leitinho / Dê-me carvão /Dê-me leitinho/ Com côdea de pão.”
Sem perguntar nem cobrar nada, o criado encheu novamente a leiteira e a minha avó, agora mais avisada, regressou a casa muito feliz!
7.º D
Histórias de guerra
Durante a minha infância, o meu avô contou-me inúmeras histórias de situações que foi vivendo ao longo da sua vida. E, ainda hoje, sempre que vou a casa dos meus avós, gosto de o ouvir contar algumas das peripécias por que passou.
Desde pequena que gosto de ouvir as suas narrativas de vida e espero, em suspenso e com entusiasmo, pelo final de cada uma. No entanto, de todas as histórias que o meu avô conta, as que eu mais gosto mais de ouvir são sobre a guerra. Apesar de serem as mais tristes, são as que mais me despertam curiosidade e interesse, embora não saiba bem porquê… Talvez por me fazerem voltar um pouco ao passado, e me mostrarem como era a vida do meu avô durante a guerra colonial.
Em todas as histórias, o meu avô fala do ambiente de tensão em que ele e os restantes soldados viviam, dos sentimentos de pavor, do pânico e medo profundos, sem esquecer o barulho, ensurdecedor, dos bombardeamentos! Conta que viviam, constantemente, com medo do que poderia acontecer, pois, até no lugar mais seguro em que pensavam estar, estavam em perigo… nunca ninguém estava a salvo! Não se vivia, sobrevivia-se!
O meu avô conta que não tinham condições, que passavam frio e fome, que era horrível!
Quando uma história é contada por alguém que viveu a situação, a forma como a conta é completamente diferente, levando-nos a imaginar o ambiente e a sentir um pouco aquilo que sofreu. Hoje, tantos anos depois, acredito que o meu avô ao contar essas histórias, volta a sentir e a reviver aquele tempo.
Na verdade, a guerra colonial foi terrível, pois causou sequelas físicas e psicológicas em milhões de soldados, que se tornaram um grande fardo que carregam para o resto das suas vidas. Não só as mortes que o meu avô presenciou como também o barulho ensurdecedor das armas estão ainda bem presentes na sua mente e constituem um grande trauma com que desde então. É lamentável!
Hoje, o meu avô considera que a guerra colonial foi a saída mais covarde para a resolução de um problema, pois custou a vida de muitos dos seus amigos.
São diversas as histórias que o meu avô conta do tempo da guerra, e, apesar de ele saber torná-las engraçadas, essas recordações ainda lhe deixam os olhos rasos de lágrimas!
9º E
A boneca
Um dia, a minha avó Manuela, quando ainda era criança, recebeu um presente especial, algo que nunca tinha tido antes: uma boneca!
Tudo aconteceu numa manhã de primavera, em que o seu futuro tio (naquela altura, ele namorava com a tia da minha avó) lhe ofereceu uma boneca. Esta não era nem muito grande nem muito pequena e era feita de um cartão forte, envernizado e pintado. Como a boneca vinha sem roupa, a minha avó, com a ajuda da sua mãe, costurou-lhe um casaco comprido, verde escuro, com uma fita amarela, de veludo, que servia de cinto, e ainda alguns outros adereços.
Um dia, a minha avó achou que a boneca precisava de tomar banho para ficar limpinha e ainda mais bonita. Assim, ela despiu-a com muito jeitinho e colocou-a numa bacia com água. Algum tempo depois, quando a retirou da banheira improvisada, a boneca estava mole e, claro, a desfazer-se… A minha avó tinha perdido a sua maravilhosa boneca. Desesperada, chorou muito, muito, mas como os seus pais viviam com pouco dinheiro não puderam dar-lhe outra, por isso aquela tinha sido a primeira e a única boneca da sua vida.
Esta história singela mostra-nos que a minha avó, apesar de ter perdido o seu precioso brinquedo, ficava contente com o pouco que tinha e que recebia, embora hoje, ter uma boneca de cartão possa ser visto como insignificante e trivial.
Surpreendentemente, a minha avó não tinha acesso a metade daquilo que as crianças têm agora, contudo, naquele tempo ela era muito feliz.
9º A
9ºF –1º Prémio “AS HISTÓRIAS DA MINHA AVÓ”
“Sãozita Caganita”!
A história que vou contar, e que poderia ter resultado num drama, ocorreu em meados da década de 50. Nessa altura, era a minha bisavó que cuidava sozinha da família, constituída por cinco filhos pequenos, com idades entre os três e os dez anos, porque o meu bisavô tinha emigrado para a Venezuela, à procura de melhores condições de vida.
A minha bisavó trabalhava como jornaleira e como, na altura, não havia creches, tinha de levar os filhos para o local de trabalho. Enquanto ela trabalhava no campo, as crianças ficavam a brincar sozinhas na eira. Os dois mais velhos brincavam aos padeiros e faziam bolos e bolachas com lama amassada, e os mais novos normalmente brincavam às escondidas ou à apanhada.
Um dia, a minha avó brincava às escondidas com os dois irmãos mais novos. Durante a brincadeira, a minha avó escondeu-se na retrete e subiu para cima da tábua, que fazia de assento de sanita. Sem saber como, escorregou e caiu pelo buraco, mesmo dentro da fossa! De imediato, pediu socorro, mas as outras crianças estavam entretidas nas brincadeiras e os trabalhadores andavam nos campos, pelo que ninguém ouviu os gritos da minha avó.
Felizmente, a fossa tinha um nível consideravelmente baixo, porque nos dias anteriores os campos tinham sido estrumados com aquela matéria orgânica. A minha avó pediu socorro, com todas as forças que tinha, mas ninguém a acudiu. Os irmãos dela, como não a encontravam, desistiram de a procurar. No fundo da fossa, já cansada e em pânico, começou a chorar.
Subitamente, a irmã mais velha da minha avó precisou de ir à retrete e, quando se preparava para se sentar naquela espécie de sanita, ouviu um grito de desespero. Assustada, saiu disparada a gritar por socorro, pois pensava que no fundo da retrete havia um monstro que a queria devorar. Inicialmente, os adultos pensaram que era brincadeira e riram-se dela, não lhe dando grande importância, mas, perante a persistência do choro e dos lamentos, todos, inclusive a mãe da minha avó, foram ver o que se passava.
Quando chegaram à retrete, ouviu-se o que parecia ser um choro de criança. A minha bisavó ficou muito aflita, pois percebeu logo o que tinha acontecido à filha. Pediu socorro a outros colegas que também trabalhavam como jornaleiros para que a ajudassem. Um dos colegas de trabalho segurou nos pés do irmão mais velho da minha avó, e pendurou-o dentro da fossa, para que, estendendo os braços, pudesse alcançar a irmã. Assim que a agarrou, o homem puxou os pés do rapaz e tirou as duas crianças para fora. A minha avó vinha inconsolável, suja e a cheirar muito mal, contudo, a primeira reação da minha bisavó não foi confortar a filha, mas, sim, pegar nela e metê-la dentro de um grande tanque de água fria, para que se pudesse lavar.
Passado o perigo e o mau cheiro, toda a gente da aldeia se riu daquela situação caricata, no entanto, durante muito tempo, a minha avó não se livrou da alcunha: “Sãozita Caganita”!